conversas anónimas
Vou ouvindo estas conversas anónimas em vários sítios dos meus percursos do dia a dia.
Algumas são banais, como o tempo (muito gostava eu de saber se não existisse este tema do que falariam as pessoas!), como está o pessoal lá por casa e o cão e o gato e por aí fora.
Mas há sempre algo que fica no ouvido. Há sempre algo que me entristece, que me faz pensar que o ser humano continua a ser um selvagem camuflado.
Nos autocarros existem bancos em que ficam quatro pessoas viradas umas para as outras, como se vê muito nos comboios. Estava um lugar vazio e a senhora que o ocupou trazia uns sacos e, sem querer, bateu com eles numa senhora que já estava sentada. A primeira pediu desculpa e perguntou se a tinha magoado.
- Magoado, não! Isto não foi nada, não se preocupe. Dores suportei eu durante 25 anos do meu marido. Era arrastada pelo chão, batia com a minha cabeça nas paredes. Vinha bêbado das amantes e depois só fazia isto em casa.
A senhora devia estar na casa dos cinquentas. Passou os melhores anos da vida dela a suportar um inferno, possivelmente em nome da aparência, do parece mal fazer queixa e deixar o marido.
Meu Deus!...25 anos!
E quantas mais e mais histórias haverá por aí?
Quantas mais histórias se escondem por detrás desses rostos que passam por nós todos os dias...